Curta
The Last Job on Earth
Será que há realmente alguma função humana que não possa ser automatizada e assumida por uma máquina? É uma das questões levantadas por "The Last Job on Earth".
Não há dúvida de que no futuro as máquinas continuarão a assumir funções básicas antes desempenhadas por humanos, como tem vindo a acontecer desde a Revolução Industrial – só que aquilo que é hoje considerado como uma “função básica” de uma máquina seria impensável apenas há algumas décadas. Isso levanta inevitavelmente a questão: será que aquilo que é hoje considerado uma função laboral necessariamente humana, poderá vir a ser assumido por uma máquina no futuro? E avançando tempo suficiente, será que há realmente alguma função laboral humana que não possa ser automatizada? Que impacto é que isso teria no mercado do trabalho, na economia, na maneira como as pessoas vivem? São essas as questões levantadas por The Last Job on Earth (2016), o resultado de uma colaboração entre o jornal The Guardian e o estúdio de animação londrino Moth Collective. The Last Job on Earth é um tipo de trabalho muito incomum mas bastante interessante: uma curta-metragem ficcional encomendada por um jornal para ilustrar e complementar um artigo de opinião. Enquanto que o artigo, de Paul Mason, apresenta uma contextualização do passado, dados contemporâneos e possíveis soluções futuras, a curta dá-nos apenas a imagem desse mundo futuro: um mundo em que a atividade humana deixa de ser vinculada ao conceito de “emprego”, e em que o livre-arbítrio deixa de ocupar um papel central no dia-a-dia – as máquinas marcam consultas no médico, escolhem a roupa e transportam as pessoas por si próprias, sem consultarem os seus “mestres”. Mas como é que as pessoas se habituam a um mundo em que tudo é automatizado em nome da sua comodidade, tanto que as próprias pessoas se tornam dispensáveis? Na curta, vemos algumas a recorrem a um salão de jogos para experimentarem a vida de um consultor financeiro ou de um construtor civil através de óculos de realidade virtual, como forma de escaparem a este futuro e de certa forma regressarem ao nosso presente, pondo em causa os benefícios humanos desta evolução. Com uma animação de traço e tons simples mas poéticos, e um ritmo exemplar auxiliado por uma banda sonora excelente, The Last Job on Earth é uma curta metragem muito pertinente, sobre um tema cuja urgência de ser discutido só continuará a crescer.