Curta

Loop

Elsa Pacheco Ribeiro

Elsa Pacheco Ribeiro

·2 min de leitura

Acordar com a cara numa poça de sangue não pode ser um bom sinal. Ainda assim, ele acorda e levanta-se, mal sabendo que o seu dia é tão previsível como o de um rato a correr numa rodinha de exercício.

Quando a situação à volta é desconfiável, é melhor desconfiar. Limpar cacos do chão e ter cacos semelhantes no caixote do lixo é normal? Este é o primeiro deja vú, a intuição de que o acontecimento presente já aconteceu no passado. Uma curta série destas sensações e ligações, no mínimo perturbadoras, assolam este homem durante um filme de apenas um minuto. Estas características não tornam o homem impotente, esta é uma condição que lhe é inerente, mesmo antes de acordar. É usada uma narrativa linear, para nos dar a conhecer este episódio paradigmático que o personagem enfrenta e o espetador é levado por planos aproximados de pormenor e orientado por focos seletivos. A banda sonora, composta por apenas sons diagéticos, como o som emitido pelo telefone ou o ruído dos cacos a caírem no lixo, dota esta história de uma sobriedade assustadora, que enfatiza e enaltece o seu suspense.

Esta curta realizada por Aritz Moreno, foi premiada múltiplas vezes, incluído algumas menções especiais. Entre outros, ganha o Best Filminute em 2011, o Grand Jury Prize no Short Short Film Festival, o Jury Prize nos concursos FilmOneFest e Microcurt, o título de Best Short Film no IV Festival de Cine Centrifugado y Canalla de Sada, ganha ainda Second Prize no concurso La Notte dei Corti Viventi, Special Mentions nos festivais Cortisonici Festival di Cortometraggi, Figari Film Fest e XVI Certamen de Cine y Vídeo Joven de Irún, Best Editing no III Valpolicella Film Festival e Best Director Nomination no Festival CreatRivas.

Será esta curta apenas uma metáfora para a falibilidade daquilo que consideramos ser o nosso melhor esforço para ter uma vida melhor, ou apenas um preságio, dos erros, que embora cometidos no passado, e sendo perceptíveis certos indícios que nos podem permitir evitar repeti-los, a que estamos condenados? Cair e levantar, para depois voltarmos a cair, até ao fim das nossas vidas. Este pode ser um ciclo vicioso a que estamos confinados, uma analogia para o destino a que estamos sujeitos. Um "por acaso", um deja vú ou uma sensação estranha levadas a sério, podem mudar o rumo da história.